sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Prendas antenadas provam que o tradicionalismo está na moda

Prendas do CTG Aldeia dos Anjos usaram vestido com tecido prateado no Enart, em 2009

Gurias lindas com cabelos a la Amy Winehouse, make com cílios postiços, vestidos prateados e homens dançando com leques vermelhos. Mais um clipe bombástico da Lady Gaga? #Not! Trata-se de alguns detalhes da indumentária usada pela invernada do CTG Aldeia dos Anjos em sua apresentação no Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart), realizado no Parque da Oktoberfest, em Santa Cruz do Sul em 2009.

Sem lembrar em nada aquela imagem idealizada da dama dos pampas com seu vestido de chita, flor no cabelo e chimarrão em punho, as prendas de Gravataí provam que tradição e moda combinam muito bem e desmistificam a figura arcaica idealizada pela maioria dos gaúchos. Cristine Flores dança no Aldeia desde 2008 e revela os segredos das prendas mega antenadas nas principais fashion weeks do mundo:

— Toda indumentária, penteados, maquiagem e uniforme (traje usado antes e depois das apresentações) são criados por nós mesmas. Depois de uma vasta pesquisa e adaptação do que queremos, os desenhos passam por uma aprovação do MTG (Movimento de Tradições Gaúchas). Estamos sempre procurando informações em revistas, blogs e ligadas em tudo que está na moda. Uma costureira especializada nos ajuda, mas buscamos sempre cores usadas nas coleções primavera/verão. Para o cabelo, este ano estamos pensando em algo com tranças.

Dono de 10 títulos do de danças originais gaúchas, CTG Aldeia dos Anjos é conhecido por ditar moda e lançar tendências no meio tradicionalista. Na foto abaixo, elas exibem um vestido curtinho, que faz parte do espetáculo. Em espetáculos fora do país, além das danças tradicionais, eles apresentam samba de gafieira.


Em 2009, embalados pela turnê feita na China, o grupo encantou e causou alvoroço entre os tradicionalistas. Repetindo o frisson de 2006, quando as prendas sapatearam — passo restrito ao peão —, os homens dançaram com leques (acessório feminino). O tom prata (tonalidade inédita e que, até então, era proibida pelo MTG) do vestido também foi novidade.

No Enart 2010 — que acontece de 18 a 21 de novembro, em Santa Cruz — mais um "desfile" das "estilistas" do Aldeia vai encantar as prendas de todo Estado. O segredo da "coleção" deste ano é guardado a sete chaves, mas Cristine adianta que todos ficarão surpresos, pois elas estão preparando algo bem impactante. Brincadeiras à parte, ao lembrar do que elas já aprontaram em outras edições da competição, uma inspiração na já citada Lady Gaga não seria uma hipótese tão absurda. Em 2008, elas dançaram de pés descalços, de acordo com a indumentária primitiva que vestiam.


— A roupa de época não permitia que usássemos maquiagem, nem acessórios. Aí pensamos em deixar os cabelos mais longos e fizemos bronzeamento artificial. Em 2005, as prendas dançaram com um vestido de cada cor, o que inspirou os outros grupos. Já em 2002, quando seguia-se um padrão, inventamos pilchas em que umas vestiam saia e blusa e outras vestido — lembra.

As aplicações das tendências não ficam somente nas roupas usadas no palco. Fora da pista de dança, a criatividade das gurias impressiona. Seguindo o ritmo frenético das passarelas, elas já criaram elegantes macacões, vestidos casuais, calças de cós alto, tudo sempre combinando com uma bolsa devidamente personalizada. Além das vestimentas feitas para o Enart, elas também criam uniformes para os agitos que rolam durante o ano e para uma festa à fantasia organizada por toda a invernada.


— É muito importante cada grupo ter suas características, sua identidade visual. Somos parte de um movimento, seguimos regras e temos que nos preocupar com a postura, mas podemos ter nosso estilo — esclarece Cristine ao lembrar que elas devem manter um comportamento esperado de uma prenda, ou seja, nada de barriga de fora e roupa mega decotada!



O pioneirismo do grupo, que hoje tem dançarinas entre 15 e 32 anos, é uma das grandes atrações do evento e inspira até mesmo quem não tem dom para os bailados. Vale lembrar que as invernadas representam apenas uma das tantas "tribos" que compõem o tradicionalismo. Adriane Rebechi Rodrigues, a 1ª Prenda do Rio Grande do Sul 2010/2011, é do grupo chamado de "prendas de faixa". Essas meninas passam anos estudando e enfrentam uma competição dividida em prova escrita, avaliação da comunicação oral, caracteres pessoais e habilidades artísticas. Cada concorrente ao título mais cobiçado entre as prendadas precisam participar da Mostra Folclórica e apresentar o Relatório de Atividades, em que se avaliam projetos desenvolvidos pela prenda na sua região.


Natural de Passo Fundo, Adriane realizou esse sonho aos 21 anos. Ela conta que tem bem mais vestidos do que jeans e que sua indumentária precisa ser mais prática do que as usadas pelas invernadas, já que usa no dia a dia. Assim como as moças do Aldeia, ela também desenha sua vestimenta e conta com ajuda de um estilista.


— Cada região possui um estilo diferente. Na minha, que é a 7ª, usamos muito apliques de flores, por exemplo, ou fitas. Na região serrana, a característica marcante é um modelo não tão armado. Seguimos nossas tendências, mas sempre buscando respeitar os fundamentos históricos da nossa tradição.


quem disse que prenda não usa bombacha? Adriane explica que em cavalgadas ou na lida do campo elas podem usar o traje. Ela recomenda alguns cuidados na hora de compor o look das atividades campeiras: nada de bordados nas laterais e bombachas muito justas! Especialmente na Semana Farroupilha, percebe-se o quanto a imagem do gaúcho e da prenda é idealizada e destorcida. Há quem acredite que pilcha é o que se vê no Acampamento Farroupilha e aqueles que imaginam que tudo é proibido em um CTG.

Fonte: Maria Mendes, Zero Hora

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