segunda-feira, 28 de março de 2016

Estuda, tchê: Gerações Coreográficas e História das Danças II

Bom dia amigos!

Uma postagem de muita visualização aqui no blog é a que falo sobre as Gerações Coreográficas e um pouquinho sobre a história e característica das Danças Tradicionais. Aquele material foi retirado da internet, e de alguns arquivos que eu tinha como material de estudo para os concursos de prenda.
Visto a grande procura pela postagem, e também levando em conta a minha "defesa" para que prendas e peões estudem os materiais indicados pelo MTG, é que trago hoje uma postagem nova sobre o mesmo assunto, com o material diretamente retirado do livro "Danças Tradicionais Gaúchas", 3ª edição, ano de 2014.

Lembrando que está saindo do forno o novo Manual de Danças Tradicionais deixando todos com muita expectativa e curiosidade, porém não acredito que esta parte de interpretação tenha muitas mudanças.
Prometo que, assim que tiver o novo manual em mãos faço um postagem "parte III", se assim for necessário :)

É extremamente necessário que se estude muito todas estas informações (inclusive, é necessário que se estude TODO o Manual das Danças, mas claro que não tenho como publicá-lo todo aqui).
Temos 25 danças que foram muito estudadas e que trazem, uma a uma, diferentes interpretações. Somos dançarinos, e além disso, atores. Precisamos representar aquilo que devemos demonstrar, criar um personagem que fique adequado ao que a dança quer nos dizer, e também, nos fazer entender pelos que nos assistem. É imprescindível que saibamos interpretar cada uma delas de acordo com o seu ciclo, ou os seus ciclos, se for o caso de ter mais de um em uma dança. As evoluções, os trejeitos adequados, os cantos na hora correta e as mímicas são essenciais para uma interpretação de sucesso.

*Ao longo do texto tomei a liberdade de colocar algumas palavras, que podem gerar algumas dúvidas, em negrito. A explicação delas está ao final da postagem.

Bora estudar, dançarinos!

CICLOS COREOGRÁFICOS E SUAS CARACTERÍSTICAS

Ciclo do Minueto
Como música, o minueto foi usado em várias composições para piano ou orquestra por Mozart, Haydn, Bach, entre outos compositores.
O minueto teve sua origem, como dança, na região de Poitu e seu nome vem de "pas menu", que significa passo miúdo.Sob o reinado de Luís XIV, invadiu os salões da corte e espalhou-se pela Europa, a ponto de tornar-se a principal dança da aristocracia, atingindo o mais alto grau de luxo e magnificência. É uma dança em andante, com formação de figuras geométricas e mesuras.
Com a criação de academias, a dança tomou forma requintada, onde um mestre de dança coordenava, com seu próprio exemplo, os passos e gestos comedidos e refinados de todo o conjunto.
O homem e a mulher, quando tomados pelas mãos, o faziam de maneira suave, executando lentos giros e reverências um para o outro. Era assim o minueto.
Influenciado por Paris, novo centro mundial da moda, começou a ser dançado pelos salões do mundo todo, influenciando assim as danças e a cultura de cada povo. Surgiu, então, o ciclo do Minueto, dotado de elegância, até mesmo no Brasil, onde muitos minuetos foram impressos para serem executados ao piano como apoio à dança. Os gestos comedidos e certa cerimônia começaram a aparecer no relacionamento entre homens e mulheres. Caiu em desuso no século XIX.

Ciclo do Fandango
O significado da palavra fandango vem do latim "findiciare" que significa "Tocar Lira", instrumento utilizado pelos povoadores da Península Ibérica.
A manifestação do fandango, segundo alguns pesquisadores, teve sua origem na Espanha, herança árabe deixada pelos mouros. Os portugueses adotaram-no dos espanhóis no tempo da dominação filipina, sendo muito popular no século XVIII e constituía-se de música e dança.
O fandango era muito apreciado em todas as camadas sociais, desde a nobreza do povo. Em Portugal, chegou a ser considerado como a verdadeira dança nacional, despertando um entusiasmo delirante. Paixão que não era imune à própria corte, que ia ver a dança nos teatros da capital.
Na alta sociedade portuguesa, o fandango substituiu completamente o minueto, que gozava de grande aceitação, mas, progressivamente, caiu no esquecimento em favor daquele, não sem que antes houvesse vingado formas híbridas, tais como o "minueto afandangado".
O fandango assumia características voluptuosas em que se destacavam os meneios femininos e o jeito galanteador do homem.
Este caráter foi amenizado com o tempo, o que não impede de considerarmos, ainda hoje, uma dança de galanteio e sedução, mesmo quando a sua evolução conduziu a puras demonstrações de agilidade e exibicionismo.
Foi esta forma coreográfica de mero exibicionismo que acabou por ficar mais conhecida em Portugal.
Temos informações de fandangos com estruturas coreográficas das mais diversas.
Também no domínio musical, as diferenças são por vezes, sensíveis, havendo um aspecto importante a salientar: muito embora o fandango seja mais conhecido na sua forma meramente instrumental, ocorro frequentemente também sob a forma cantada.
Também Joseph Baretti refere, em meados do século XVIII, que o fandango é dançado ao dom de apenas uma guitarra (provavelmente viola), ou da guitarra acompanhada pela voz.
Igualmente, na Espanha, o fandango ´w, ou era cantado, como nos mostra a partitura de 1888 oriunda da Málaga, inserta na obra Folclore y Costumbres de Espanha.
O fandango difundiu-se largamente com nome e formas diversas em cada região. Já no Brasil, tornou-se mais apreciada no nordeste e nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
No Rio Grande do Sul o fandango chegou, primeiramente, com os tropeiros, na região serrana, e no litoral, com os açorianos e o lagunista, com informa Alceu Maynard Araújo.
Da conjunção do fandango vicentista, dança masculina estridentemente sapateada, com as cantigas trazidas por açorianos e luso-brasileiros, povoadores do sul, surgiu o primitivo fandango gaúcho, que é um conjunto de cantilenas interpretadas à viola, intercalado por uma parte coreográfica pantomímica, em que só os homens sapateiam.
Em um segundo estágio, surge o fandango-baile, agora com a presença feminina, dando a esta dança um toque de graciosidade e sedução.
Muitas vezes os próprios dançarinos, espontaneamente, participavam cantando.

Ciclo da Contradança
O seu nome original "country dance" (dança campestre) revela a sua proveniência popular e inglesa. Nesta designação englobavam os britânicos, tal como ainda é hoje, todas as danças originárias do campo, e não apenas uma delas.
Segundo Curt Sachs, havia dois grandes tipos de country dance: os rounds, que eram danças circulares onde homens alternavam com as mulheres, e os longways, que eram danças de fileiras, em que a fila de homens se posicionava em frente à das mulheres.
Este último tipo apresentava enorme variedade de figuras, como arcos, estrelas, cadeias, passeio, etc.
A edição do citado The English Dancing Máster, entre 1650 e 1698, mostra que os longways foram progressivamente substituindo as mais antigas e menos elaboradas formas de rounds, square-eights, etc.
Ainda no século XVII, a contradança atravessou o Canal da Mancha e seu nome original, country dance, evoluiu para a corruptela "contredance", na França e, em Portugal, para contradança.
Lembre-se da importância que a corte de Luis XIV teve na música e dança europeia: os mestres da dança, para enriquecerem e variarem o repertório músico-coreográfico da corte, procuravam, entre o povo, as danças que mai lhes agradavam, adaptavam-nas coreograficamente com movimentos graciosos e, musicalmente, faziam os arranjos pata os instrumentos eruditos.
Esta sede de inovação levou-os também a adotar danças estrangeiras, a inglesa "country dance", foi uma delas.
Após ter colhido as danças das mais variadas proveniências, a corte do Rei-Sol e ele próprio, cultor e protetor da dança, tinham o prestígio e a influência cultural para irradiar as "suas" danças para toda a Europa culta, inclusive para os países donde elas eventualmente tivesses provindo.
No século XVIII, ela foi a grande dança protocolar de abertura dos bailes da corte. À medida que ela foi se popularizando, principalmente em Portugal, o nome "quadrilha" começou a ser usado, seguindo uma terminologia utilizada na Espanha e na Itália, onde identificava a contradança como uma dança realizada por quatro pessoas. Desta "quadrilha de quatro", derivou a quadrilha geral.
A quadrilha chegou ao Brasil no século XIXm com a vinda da corte Real portuguesa e, rapidamente, esta dança de salão, típica da nobreza, caiu nas graças do nosso povo animado e festeiro.
Ainda no Brasil e, principalmente no sul, as contradanças foram enriquecidas com a chegada dos açorianos e luso-brasileiros de forma viva, alegre e descontraída.

Ciclo das Danças de Pares Enlaçados
A primeira danças de pares enlaçados (danças fechadas de par), que se tem notícia, foi citada pela primeira vez em Paris, em 1536, com a denominação de "Volta", que tomou conta dos salões e dominou a Inglaterra, Alemanha e Brasileia (História da Dança - Eliana Caminada).
Na Áustria e na Alemanha, a dança dos pares enlaçados foi surgindo nas regiões campestres, a partir do minueto (dança em que os pares dançavam separados) e do Laendler (dança campesina mais antiga).
Sua característica alegre e envolvente logo levou o ritmo à preferência de muitos, com exceção das classes aristocráticas e camadas sociais mais altas, que a consideravam imoral e vulgar, Em algumas regiões da Inglaterra e em cortes alemãs, a dança foi proibida por décadas.
Essa dança de pares enlaçados ganhou notoriedade através da valsa. A palavra valsa deriva da palavra waltzer (derivada do verbo waltzen), que em alemão significa "dar voltas".
A primeira música desse gênero foi executada no Salão Barroco da Corte dos Habsburgos, em Viena, em 1660. Entretanto, Curt Saches, registra que: "Maigne viu praticar esta dança em 1580, enquanto realizava sua viagem à Itália e a descreveu em seu diário expressando que os bailarinos se abraçavam tão estreitamente, pondo-se mutuamente as mãos sobre as costas, que os rostos encostavam-se".
Em Paris, durante muito tempo, a valsa apenas conseguiu invadir as figuras da quadrilha, com o nome de "balance", mas até então, nada possuía daquela vivacidade característica,  daquele girar tresloucado que muitas vezes levavam à vertigem.
Este "balance" limitava-se a um lento rodar de pares que se tomavam pela cinturam causando escândalo a uma Paris que vinha dançando, desde há um século, somente minuetos e contradanças.
Por ocasião do Congresso de Viena (1814/1815) - reunião internacional que restabeleceu o equilíbrio europeu após a derrota de Napoleão Bonaparte - encontraram-se cerca de cem mil congressistas estrangeiros, que deslumbrados pela movimentação vertiginosa das valsas, esqueceram-se quase por completo o objetivo político e social do Congresso, para deleitarem-se por cinco meses a fio com a nova e deslumbrante dança.
E assim, a valsa foi vencendo as barreiras do preconceito e, em pouco tempo se fez presente nos salões, palácios e cortes imperiais, animando suntuosas e frequentes festas à luz de grandiosos candelabros.

DANÇAS TRADICIONAIS GAÚCHAS

Anú
Dança, que na parte dos sapateios e sarandeios, apresenta características do ciclo do fandango, expressando toda habilidade e teatralidade, com sapateios vivos e algo pantomímico e sarandeios alegres com graciosidade. No passeio, esta dança apresenta características do ciclo do minueto através de passos revestidos de mesura.
Nota: O "bate palmas" do "entre canto", mesmo sendo vivo, mantém as características do passeio, enquanto que o "bate palmas" das figuras apresenta as características do fandango.

Balaio
Dança constituída por duas partes distintas: uma sapateada e com sarandeios, apresentando características do ciclo do fandango e, outra, com o girar de rodas concêntricas, que apresenta as características das contradanças, com a peculiaridade de que canto e dança se processam simultaneamente, não havendo interrupção da dança para a execução do canto.

Cana Verde
Dança de origem portuguesa, de pares dependentes, em conjunto, com as características do ciclo das contradanças. Tornou-se popular em vários estados brasileiros, e naturalmente, adquiriu cores locais.

Caranguejo
Dança com características das contradanças, muito popular em todo o país, havendo referência sobre a mesma desde o século XIX. No Rio Grande do Sul, o primeiro registro musical foi feito por Alcides Cruz para o anuário do Rio Grande do Sul, em 1903. A melodia perdurou em nosso Estado em cantigas de roda ou brincadeiras infantis.

Chico Sapateado
Dança de pares independentes, que apresenta características do ciclo do fandango na parte sapateada e do ciclo das danças de pares enlaçados na execução do valsado.

Chimarrita
Dança de origem açoriana, dançada em conjunto por pares soltos dependentes, com características do ciclo das contradanças. Apresenta características românticas, conforme a evolução das figuras.

Chimarrita Balão
Dança de pares independentes com características do ciclo do fandango nos sapateios e sarandeios e do ciclo das danças de pares enlaçados nos passos de polca.

Chote Carreirinho
Dança de pares independentes, que possui características do ciclo das danças de pares enlaçados.

Chote de Sete Voltas
É uma dança de pares independentes, com características do ciclo das danças de pares enlaçados, tendo a peculiaridade dos pares realizarem sete voltas, mais ou menos no mesmo lugar, respeitando o raio de ação, girando vivamente.

Chote de Duas Damas
Mesmo sendo uma variante bastante curiosa do chote em que cada peão dança com suas prendas, apresenta características das danças de pares enlaçados. Também, é importante salientar que esta dança deve ser executada ao som de um chote regionalista gaúcho,

Chote de Quatro Passi
Dança com características do ciclo das danças de pares enlaçados e das contradanças, com letra em italiano, cantada pelos dançarinos.

Chote Inglês
Dança híbrida, tendo na primeira e terceira figuras, características do ciclo dos minuetos e características do ciclo das danças de pares enlaçados, no chote fundamental.

Havaneira Marcada
Dança de pares independentes, com características do ciclo das danças de pares enlaçados.

Maçanico
Dança de pares dependentes, com características do ciclo das contradanças, principalmente pela vivacidade na sua execução.

Meia Canha
Dança com características do ciclo das contradanças, tendo como peculiaridade a "troca" de quadrinhas recitativas entre os dançarinos.
Sabemos que existem algumas maneiras de se desenvolver a "meia canha": os pares danças enlaçados, como na valsa, e independentes, como num baile ou em formação de roda com todos de mãos dadas, soltos e/ou enlaçados,
Todas as figuras que forem apresentadas poderão ser realizadas pelos seguintes passos: passos de polca, passos de marcha, saltos de polca, podendo ainda, quando necessário, usarem suas respectivas marcações.

Pau de Fitas
Dança de origem primitiva e universal, com características das contradanças, onde os dançarinos realizam evoluções em torno de um mastro de aproximadamente três metros de altura e mais ou menos oito centímetros de diâmetro.
Na extremidade superior deste mastro são fixadas as fitas (de cores claras para as prendas e escuras para os peões), com largura de mais ou menos dois a quatro centímetros e de até cinco metros de comprimento.
As figuras devem ser executadas ao som de rancheira, mediante passos de terol, passos de rancheira e, ainda, marcações destes passos. Também pode-se realizar o "Terol Sapateado" desde que seja executado no início e/ou no fim  das evoluções.
Durante as evoluções da dança, todos os dançarinos devem executar os mesmos passos; caso alguns optem por fazer marcações, estas devem ser correspondentes ao passo que está sendo executado no momento. Não poderá haver trocas de passos (rancheira para terol ou vice-versa) durante a execução de uma figura, podendo, no entanto, mudar o passo após o término de qualquer figura, se for o caso.

Pezinho
Dança de pares independentes com características das contradanças, tendo sua origem nas Ilhas dos Açores,

Quero Mana
Dança com características do ciclo do minueto, revestido de mesuras, com passos comedidos e certa cerimônia.

Rancheira de Carreirinha
Trata-se de uma coreografia especial, com características do ciclo das danças de pares enlaçados, embora, a certa altura, os peões possam sapatear e as prendas, por sua vez, sarandear, ambos em ritmo ternário.

Rilo
Dança com as características do ciclo das contradanças, com a peculiaridade de que se executam os passos de marcha, procedidos de taconeios de passagem, do início ao fim da dança.

Roseira
Dança com características do ciclo do minueto nos passeios, do ciclo do fandango nos sapateios e sarandeios, e ainda, do ciclo das danças de pares enlaçados, no "valsado" (2ª figura) e na "roseira" (4ª figura).

Sarrabalho
Apresenta características das danças do ciclo do fandango e também do ciclo das contradanças.

Tatu
Dança com características do ciclo do fandango, sendo uma criação coreográfica da invernada artística do 35 CTG, em 1954, realizada a partir da adaptação da partitura musical editada por Graciano Azambuja, em 1903, no Anuário do Rio Grande do Sul.

Tatu com Volta no Meio
Transcrevemos aqui, o texto Manual de Danças Gaúchas:
O "tatu" era uma das cantigas do fandango gaúcho (entremeadas de sapateados). Como acentuou Augusto Meyer, " tatu é o mais longo e sem dúvida o mais importante dos nossos cantos populares". Realmente, mesmo após o desaparecimento das danças sapateadas, continuou o "tatu" a existir, sob a forma de uma "décima" popular em todo o Rio Grande do Sul (chama-se de "décima", nesse Estado, a uma história contada em versos)...
... Devido à popularidade com que se contou a história do Tatu, no Rio Grande do Sul, observou-se nessa dança do fandango, algo bastante curioso: chegou uma época em que o sapateado passou a se executar simultaneamente com a execução do canto - numa exceção à regra geral de que o canto interrompe a dança no fandango.
Coreografia:
Nos primeiros tempos, o "tatu" como legítima dança do fandango, consistia num sapateado pelos pares soltos, sem maiores características. Posteriormente, o "tatu" sofreu a intromissão, em sua coreografia, da "Volta-No-Meio" - uma dança que se tornou popular no Brasil em meados do século passado (século XIX) (era, mais propriamente uma figura especial, do que uma dança específica. Desta fusão nasceu um novo "tatu", que se subdivide em duas partes: na primeira parte, os pares, soltos, sapateiam; e na segunda parte, cada par se toma por uma das mãos, para que a prenda gire em torno do próprio corpo (Volta-no-Meio).
Os mais antigos textos musicais do "tatu" rio-grandense (tais como o transcrito no "Anuário" de 1903, de Graciano Azambuja) não apresentam a "volta-no-meio". A melodia que aqui divulgamos, porém, já se encontra adaptada à letra e à coreografia alusiva à volta-no-meio. Tanto do ponto de vista da métrica das quadrinhas, quanto no que respeita ao tema melódico, à coreografia e ao ritmo, há nítida divisão entre a parte que chamaríamos de "tatu" propriamente dita (sapateio) e à parte alusiva à "volta-no-meio".
Na "volta-me-meio", a prendam tomada pela mão de seu companheiro, gira como se fosse realizar várias voltas, mas "interrompe a volta no meio do verso", passando a girar em sentido contrário.
No que respeita à parte sapateada, o "tatu" é a dança gaúcha que maior liberdade oferece aos dançarinos. Assim sendo, eles podem abrilhantar seus passos com os mais diversos "floreios", de acordo com a habilidade de cada um. O Sr. Estácio José Pacheco, um de nossos mais habilitados informantes, forneceu-nos um detalhe bastante interessante sobre o "tatu", dança a que assistiu, pela última vez, em 1914, no distrito de Capivari, município de Rio Pardo. "Eu vinha de encruzilhada e pousei num rancho, e aí havia alguém que fazia anos e festejavam os anos desta pessoa com um baile - diz o Sr. Estácio José Pacheco em informação que mantemos em nossos arquivos, registrada em disco. - Nesse baile eu tive oportunidade de ver dançar a Chimarrita, o Tatu e o Anu". Em seguida nos descreve o "Tatu": "a dança era mais ou menos entremeadas de pequenas rodas, com sapateados ligeiros, ou com valseados. As vezes, os pares ("pares", aqui, significam os dois componentes de um par), dançavam um em volta do outro, sapateando livres. Outras vezes, davam-se as mãos. Outras vezes, utilizavam o lenço. O lenço era muito usado. Era uma das maneiras de florear a dança. Os homens acenavam com o lenço para elas, e elas acenavam também para eles quando faziam a volta. Se "oiando" - olhando um para o outro. E sempre com uma expressão sorridente, de satisfação, de alegria, e até mesmo de amor, quando eram jovens".
Da obra Danças e Andanças:
"... quando do início de nossas pesquisas encontramos o "tatu" - ao lado da Chimarrita Balão já como uma dança híbrida em que os pares dançavam uma polca, enlaçados, e depois de desenlaçam para executarem o bate pé."
"Vamos dar aqui uma das maneiras mais simples pela qual se dançou o "tatu" no Rio Grande do Sul, incluída a figura da Volta no Meio"

Tirana do Lenço
Dança que possui características do ciclo do fandango.
Segundo informante Estácio José Pacheco, a dança podia ser interrompida ao fim de cada figura para que fossem recitadas quadrinhas, ou o violeiro entoasse uma daquelas tradicionais cantigas da tirana.
Geralmente, a Tirana do Lenço se processava sem interrupção, mas de qualquer forma, jamais o canto se ouvia simultaneamente com a execução da dança.
Durante a execução do levante, os dançarinos, se já não estiverem posicionados, dispõe-se independentemente nos lugares iniciais, mais ou menos frente a frente.

SIGNIFICADOS DE ALGUMAS PALAVRAS:

Mesuras: Cortesias, cumprimentos repletos de delicadeza.

Comedidos: Moderados, discretos.

Híbridas: Resultado do cruzamento entre duas espécies.

Voluptuosas: Em que há prazer, deliciosas.

Meneios: Movimentos do corpo, gestos.

Estridentemente: Que ocasiona ruído ou barulho.

Pantomímica: Teatro gestual que faz o menor uso possível de palavras. É a arte de narrar com o corpo.

Corruptela: Deformação de palavras.

Descontraída: Relaxada, desinibida.

Envolvente: Que envolve, que seduz.

Tresloucado: Desvairado, exaltado.

Vertiginosa: Que causa vertigens, que gira com muita rapidez.

Suntuosas: Que demanda grande quantidade de dinheiro, luxuosas.

Concêntricas: Círculos ou curvas que contém o mesmo centro.

Espero que gostem e que façam muito bom proveito destes ensinamentos.
Um grande abraço, e uma semana iluminada a todos!

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